
Assistindo a um episódio do programa Masterchef Brasil recentemente, e observando sua dinâmica, pude refletir sobre as semelhanças com o mundo corporativo.
Na seleção dos participantes do programa, os candidatos apresentam para o jurados um Prato que trazem pré-prontos, finalizam, montam e entregam em minutos, tudo isso em meio a alguns questionamentos dos jurados como idade, profissão, de onde veio a vontade de cozinhar, etc. É praticamente uma entrevista de emprego que as empresas fazem, já com um pouco de Dinâmica sendo aplicada. É muito interessante, pois o candidato tem que demonstrar suas habilidades ao vivo, conversar, interagir, e ao mesmo tempo manter a concentração e foco na execução do Prato.
Os Chefs julgadores têm a chance de analisar a postura do Candidato, perceber a técnica durante a execução e então provar e avaliar o prato – ali é uma oportunidade única, que muitas vezes não temos no momento de uma entrevista formal, a de comprovar através da degustação do prato se o discurso do candidato é realmente condizente com a performance apresentada.
Ou seja, se aquilo que ele apresenta é apenas retórica, ou se realmente ele possui capacidades e habilidades concretas a fim de realizar aquilo que se propõe.
Nada passa desapercebido pelos avaliadores: detalhes na preparação, harmonia e montagem do prato e até mesmo organização do local de trabalho são observadas. E então, decide-se pela aprovação ou não para a próxima fase.
Hoje, por mais que façamos as perguntas corretas, apliquemos testes de perfil e dinâmicas de Grupo para avaliar o desempenho nas interações, ainda é muito difícil prever como será a performance do candidato no mundo real, onde se espera que ele tome ações e decisões, que mostre a que veio – por isso programas de estágios e trainees são importantes para que se teste a performance de maneira mais apurada.
Os candidatos aprovados para a próxima fase do Masterchef são logo submetidos a uma prova extremamente técnica : cortar legumes na maior quantidade possível seguindo um padrão de tamanho, separar clara e gemas de ovos utilizando uma determinada técnica, etc. Superada essa fase técnica, o candidato se torna participante oficial do Programa.
Muitas vezes acreditamos nos discursos sobre as experiências e conhecimentos do candidato, enquanto ele fala de suas experiências pretéritas em outras empresas, tentamos imaginar da nossa maneira como teria sido e o que ele realmente poderia ter agregado – mas tudo de acordo com as nossas percepções e não com a comprovação real de um fato (como a degustação de um prato pelos jurados).
Falta-nos um pouco de material substancial que comprove as experiências.
Vejo algumas evoluções bem coerentes nesse sentido, um exemplo sólido na área de TI é a popularização das Hackatons – também chamadas de maratonas de desenvolvimento, onde candidatos, em sua maioria estudantes, aplicando-se para um estágio ou vaga na empresa, são submetidos a uma série de testes onde a sua “Técnica” tem que ser comprovada.
É realmente muito interessante e traz resultados surpreendentes, mas custa caro. Por isso são aplicadas e feitas em poucas situações, onde, por exemplo, exista uma demanda de seleção de um grupo grande de pessoas.
Voltando ao programa de TV, toda semana os candidatos são submetidos a diferentes provas, divididos em grupo com um líder eleito a cada prova, sendo colocados em situações extremas e inusitadas, tais como cozinhar para um grande grupo de pessoas ou assumir a cozinha de restaurantes famosos, enfim, provas que comprovam a capacidade de liderança, de lidar com grande pressão, resiliência, o comportamento em grupo, etc. ou seja, infinitos aspectos podem ser analisados através das provas.
E as características humanas são facilmente notadas: a capacidade de cada um, sua inteligência emocional, tudo é destacado em situações de grande pressão. É muito interessante perceber o comportamento de cada um nas diversas situações em que são colocados, observar como cada ser humano é complexo e diferente. Nada se repete, cada pessoa tem sua maneira de encarar uma determinada situação, uns mantendo a calma, outros entrando em desespero, ou ainda aqueles que perdem a capacidade de reagir.
Isso se assemelha e muito ao dia-a-dia de uma corporação. Dando um zoom out nas situações de pressão, é possível perceber a reação de cada um (e captar um pouco de sua personalidade). Entender as peças do quebra-cabeça acaba sendo crucial para os líderes atuais, que tem que saber escolher a peça chave certa para cada situação, iniciativa ou projeto.
Valorizar as características boas e identificar aquelas que podem ser melhoradas, o perfil, a Inteligência Emocional e o tipo de reação em cada situação é a grande mágica que um líder deve saber fazer. Definitivamente ser líder é saber colocar a pessoa certa, no lugar certo e no momento certo, desenvolvendo assim o melhor de cada um, trazendo um melhor resultado para a empresa e a satisfação plena do colaborador.
Vamos transformar nossos colaboradores em Masterchefs de nossas organizações, sendo exigentes quando necessário, mas também reconhecendo e celebrando quando uma conquista é alcançada.
Filipe Schmidt